sexta-feira, 25 de maio de 2012

A PESQUISA SOCIAL





A PESQUISA SOCIAL E SUA IMPORTÂNCIA PARA
                               A PROFISSÃO DO ASSISTENTE SOCIAL


                                                                              Rogério Rodrigues de Souza Freire[1]

 

A PROFISSÃO DO ASSISTENTE SOCIAL


RESUMO: O presente estudo se destina ao componente curricular Pesquisa I, como requisito para obtenção da nota da primeira unidade. Aqui estudamos o papel da pesquisa social, sua importância e elementos essenciais para que assim, possa ser um meio importante para o enfrentamento da questão social e os elementos que compõe a analise e o conhecimento do referencial estudado. Com isso a pesquisa torna-se elemento singular para o conhecimento de questões relevantes para o serviço social, que entra no enfrentamento social tendo um conhecimento base do campo estudado.    

Palavras chave: pesquisa social, serviço social, campo de pesquisa.    

 

INTRODUÇÃO


O serviço social no Brasil lança suas bases nos anos trinta, imbuído da tradição européia e norte-americana. Em 1936, surge a primeira escola de serviço social em São Paulo. Aqui os primeiros assistentes sociais se fundamentam em uma tradição baseada na teologia social da Igreja Católica, que encontra seu alicerce no Catecismo Católico.
Neste momento, o voluntarismo arraigado na fé católica influencia sobre os assistentes sociais. As beatas e os beatos têm uma função importantíssima, pois na medida em que fazem seu trabalho, também transmitem a ideologia católica. Isto se dá principalmente porque na época a grande maioria dos assistentes sociais eram católicos praticantes, como também membros de setores abastados da sociedade burguesa da época.
Assim, nos primórdios do serviço social não havia uma preocupação com a investigação, ou seja, a profissão se construir tendo como base a intervenção (o fazer profissional). Não é em vão que ficou conhecida, neste momento, como “disciplina do agir” (SOARES, 1996, p.1).
Percebemos uma mudança mais acentuada desta visão nos anos sessenta, quando a perspectiva de intenção de ruptura no serviço social, dá seus primeiros passos, mesmo que não conseguindo de imediato, sendo abortado com o golpe militar de 1964, quando foi instalada a ditadura militar brasileira. Em Araxá[2] (1967) e Teresópolis[3] (1970) o serviço social pensou uma profissão preocupada com a metodologia e com uma fundamentação teórica.
Nos anos setenta com esse ideário de ruptura chegando a universidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, com a criação do método “B.H”[4] (1972-1975), o espaço da perspectiva renovadora da profissão se destacou, tentando romper com o serviço social tradicional. Aqui avanços e continuidades, são postos à Renovação do serviço social, esse processo torna-se incipiente.
Portanto, a profissão, aos poucos foi avançando no sentido de uma postura investigativa, passando a perceber a relevância da pesquisa tanto na formação profissional quanto na prática cotidiana.

 

A PESQUISA SOCIAL E O SERVIÇO SOCIAL


O conceito de pesquisa social que norteará este trabalho é o defendido por LAKATOS (1998).

Entendemos por pesquisa a entidade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados. (LAKATOS, 1998, p.23).

Dessa forma a pesquisa é um suporte importantíssimo para obtenção de dados que fundamentam uma determinada teoria ou sistema. É nela que são buscados os resultados capazes de direcionar, comprovar ou negar hipóteses em relação ao objeto pesquisado.
LAKATOS (1998), também apresenta cinco tipos de pesquisa: a pesquisa básica, onde há a elaboração de teorias; a pesquisa estratégica, que tem como norteadores os problemas sociais; a pesquisa orientada para um problema específico, que visa responder problemas práticos e operacionais; a pesquisa ação, imbuída de uma prática, ou seja, o pesquisador também é cooperador e a pesquisa inteligência, onde são feitos levantamentos de dados demográficos, estatísticos, econômicos, etc; como por exemplo o IBGE.
Nesse caminho constatamos que o modelo de pesquisa que mais se usa no serviço social é a pesquisa orientada para um problema específico e a pesquisa ação, isso não quer dizer que não fazemos dos outros modelos. No entanto, o profissional da nossa área tem como objetivo não somente levantar e coletar dados mas traçar cominhos para o enfrentamento da realidade estudada, trazendo assim os resultados para seu fazer profissional, interagindo com a realidade.       
Essa pesquisa ganha destaque fundamental com o avanço das tecnologias e do capitalismo industrial nos últimos séculos. O desejo de produzir respostas capazes de alimentar os anseios da sociedade ultrapassa o campo das profissões, raças, situação econômica e social.
No campo social a pesquisa se destaca por lidar com o cotidiano, o ser humano é colocado no centro das discussões, no entanto, estas, muitas vezes ultrapassam barreias morais e ideológico-culturais, colocando no bojo dos conflitos pesquisados questões fundamentais para a compreensão do homem enquanto ser complexo.   
 Do assistente social, profissional capaz de dialogar com diferentes áreas do conhecimento, é cobrada a competência de investigar e produzir conhecimentos. A pesquisa vai ganhar destaque em nossa profissão. No processo de consolidação e espraiamento da intenção de ruptura com o Serviço social tradicional.
A inserção acadêmica de assistentes sociais durante a ditadura tornou possível a interação intelectual crítica com investigadores de outras áreas e a dedicação à pesquisa nos cursos de graduação criando grupos de pesquisa, avanço e aperfeiçoamento dos campos de estágio, o que resultou no crescimento da                                         elaboração de monografias como resultados de pesquisa de campo e do estágio supervisionado.
Nesse contexto, como define SOARES (1996), percebemos que a pesquisa torna-se elemento importante para os profissionais da área, impulsionando o surgimento dos primeiros cursos de mestrado e doutorado nos “anos 70”[5], frisando assim, que a nossa profissão deve percorrer um caminho de investigação e pesquisa continua e não apenas se apossar de elementos já discutidos em outras ciências.
Esse crescimento, acima citado, nos possibilita entender que, o ensino e pesquisa devem caminhar lado a lado, para isso os desafios e obstáculos laçados pelo caminho devem ser superados. Para tanto, estes profissionais são chamados acompanhar a linha tênue das transformações gestadas dentro do modelo vigente.
Nesse sentido a área de serviço social vem obtendo reconhecimento nos órgãos de fomento CNPq[6] e CAPES[7], por contribuir com pesquisas relevantes sobre os mais variados temas, trazendo para o cenário social assuntos até então vistos apenas numa ótica histórica, fornecendo assim, elementos para que sejam criadas políticas de enfrentamento às mais variadas manifestações da questão social.   
As transformações ocorridas nos colocam em um cenário de discussões relevantes para a sociedade, onde o capital, a democracia e a questão social são elementos indissolúveis.
Nesse caminho, IAMAMOTO (1993) aponta a importância do debate acadêmico-profissional, para que seja possível uma ultrapassagem de uma visão doméstica, familiar e consensual das relações profissionais, impulsionando uma aproximação do Serviço Social às fontes clássicas e contemporâneas do pensamento social na modernidade.
Nesse sentido Marx, torna-se um “referencial teórico-metodológico inesgotável”, contribuindo para a pesquisa e para prática profissional. Esta aproximação com as obras marxianas trouxe para o Serviço Social um arcabouço teórico-crítico de importância substancial, pois um caráter critico à profissão fazia-se necessário. Tendo em vista que a profissão desde o seu nascedouro era destituída deste caráter, dada sua aproximação com ideologias religiosas e burguesas.
 Esse pensamento critico trouxe discussões ao bojo do serviço social, antes deixadas de lado, como as estratégias de enfrentamento, o conhecimento do objeto de estudo e o método usado no processo de produção acadêmica. Dessa forma, o empirismo e o utilitarismo puderam ser ultrapassados.
As diretrizes Curriculares de 1996 enquanto grandes impulsionadoras da pesquisa investigativa no serviço social, deu suporte para capacitação teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativo para a profissão, pois nela foi reafirmada a necessidade de um conhecimento da realidade que em o profissional está inserido impulsionando para isso uma formação mais aprofundada da história social e seus frequentes avanços. 
 Ao mesmo tempo em que esta linha de pensamento trouxe avanços ao serviço social, ela também trouxe grandes obstáculos. Pois, ao se inserir num caminho investigativo o pesquisador se coloca num cenário de limites, se deparando com ideais bem definidos, de um lado, estão as grandes instituições financeiras e monopolistas, de outro, o fazer ético do profissional investigativo e sua relação com a pesquisa. BOURGUIGNON (2007) nos leva a refletir esta realidade:

Reconhecemos que a própria inserção da profissão na divisão sócio-técnica do trabalho impõe limites quanto aos investimentos institucionais, para fomento à pesquisa, quanto ao reconhecimento da sua produção, bem como quanto a incorporação da prática investigativa pelos profissionais. (BOURGUIGNON, 2007, p. 49)  
           
A pesquisa em si parti de questionamentos, surge de uma indagação, de uma pergunta feita em relação ao objeto estudado, é uma ultrapassagem da realidade posta, de um imediatismo, de uma aparência que se mostra de início como única verdade.
Cabe ao investigador fazer a mediação entre a realidade imediata e aquela posta na obscuridade das entrelinhas do objeto investigado. Dessa forma, é possível uma distanciação do aparente e, consequentemente, aproximação da essência dos fatos buscados.
Dessa forma a categoria “particularidade” torna-se indispensável para o serviço social. BOURGUIGNON citando LUKÁCS (1970, p.103-104) vai dizer: a particularidade se constitui de “um campo de mediações”, a partir do qual podemos apreender o movimento dialético do universal ao singular: “O movimento do singular ao universal e vice-versa é sempre mediatizado pelo particular; é um membro intermediário real, tanto na realidade objetiva quanto no pensamento que a reflete de um modo aproximativamente adequado”.
Assim, percebemos que na pesquisa, não podemos nos deter às primeiras constatações, devemos ultrapassar esse estágio (aparência) e ir em busca de outras possibilidades de compreensão (essência).
O conhecimento produzido a partir de então será capaz de colocar o sujeito social no centro das discussões sociais. Os impactos trazidos com a pesquisa nos despertará para realidades novas capaz de refletir sobre problemas de ordem central para o contexto histórico-político e profissional.
A pesquisa assim é um elemento crucial na produção de conhecimento, um processo capaz de produzir efeitos importantes no meio em que é realizada.
Contudo, a pesquisa ainda continua sendo um privilegio de uma “elite profissional”, ou seja, ainda não se disseminou para a totalidade dos alunos de serviço social e para os assistentes sociais como todo.
Percebemos essa realidade de forma latente, quando verificamos que muitas informações são retidas ou minimamente divulgadas pelos setores responsáveis, tendo por trás um jogo de interesses e “um certo tráfico de influências”.
Os requisitos exigidos também são elementos utilizados para uma seleção dos “melhores e mais capacitados” para o ingresso nos grupos de pesquisa e extensão. Dentre estes requisitos a disponibilidade, o coeficiente escolar e a produção acadêmica são indispensáveis.
Nesse processo comumente ficam aqueles que possuem maior disponibilidade, o que não quer dizer que sejam os “melhores e mais capacitados” para tal tarefa.
Portanto, a pesquisa é também um divisor de águas no sentido de favorecer a elaboração de teorias e sistemas e ao mesmo de selecionar os aptos ao processo investigativo. Nesse sentido, ficam de fora muitos alunos e profissionais que não se encaixam nos parâmetros estipulados pelo sistema responsável.          

APROXIMAÇÕES CONCLUSIVAS

A pesquisa social ao longo da história se constituiu como sendo um elemento central para produção de conhecimento, seja ele usado na prática profissional do assistente social ou de forma mais geral na sociedade.

Percebemos que, neste percurso, muitos desafios são apresentados, desde o momento em que são selecionados os pesquisadores, temas e campos de pesquisa, pois o pesquisador se depara com obstáculos e dados de uma realidade que não revelam as diversas expressões da questão social.

Assim o pesquisador enfrenta o desafio de interpretar os dados colhidos e de fornecê-los, mais tarde à população acadêmica e social, tendo em vista a relevância de fazer o caminho de volta, ou seja, devolver os resultados aos sujeitos da pesquisa. 

            O profissional encontra desafios, ainda, maiores, pois no ato de investigar as informações podem ser dadas de forma incorreta, ou até mesmo distorcidas. Isto conduz a resultados distantes da realidade.
            Portanto, a pesquisa social se constitui como um dos alicerces principais na compreensão da realidade social e da construção de novos conhecimentos essenciais para prática profissional, de forma especifica, do assistente social.
            Não basta só compreender o que é a pesquisa social, mais sim compreender seu lugar enquanto ponto de partida para a profissão, e consequentemente, elemento fundante de melhorias e conhecimentos tanto no curso de formação quanto no da prática profissional.
Dessa forma será possível a comunidade social e acadêmica colher os frutos essenciais ao desenvolvimento do saber, dentro de uma realidade social, toda ela formada de sujeitos capazes de estudar e refletir sobre os fatos gestados a cada dia dentro do bojo sóciopolítico e histórico vigente.

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA


ABEPSS, Rio de Janeiro. (dispõe sobre as diretrizes curriculares para o serviço social Com base no Currículo Mínimo aprovado em Assembléia Geral Extraordinária de 8 de novembro de 1996). Ano 1996

BATTINI, O. A atitude investigativa e formação profissional: a falsa dicotomia. In: Serviço Social e Sociedade, Nº 45. São Paulo. Editora Cortez, 1994.

BOURGUIGNON. J. A. A particularidade histórica da pesquisa no Serviço Social. Revista Katalysis, Florianópolis, 2007.

IAMAMOTO, M. V. Ensaio e pesquisa no Serviço Social: desafios na construção de um projeto de formação profissional. Caderno Abess. São Paulo, 2003.

LAKATOS, E. M; MARCONI, M. de A. Metodologia científica. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1998.

PEREIRA, P. A. P. A utilidade da pesquisa para o Serviço Social. Revista Serviço Social e Saúde, v. 4. N. 4. Campinas, 2005.

RICHARDSON, R. J. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 2005.

SOARES, M. de L. O percurso da pesquisa no âmbito do Serviço Social. João Pessoa: UFPB, 1996.








[1] Graduando do 2° ano em serviço social pela Universidade Estadual da Paraíba - UEPB; rrsouzafreire@gmail.com
[2] O seminário de Araxá está dentro do movimento de reconceituação e teorização do serviço social, ocorrido em Minas Gerais em 1967, onde foi discutido questões relevantes para o serviço social na época, isto se deu em plena ditadura militar. A participação foi bem reduzida não chegando a quarenta participantes tendo como propostas ações voltadas para macroatuação (política e planejamento) e a microatuação (serviços diretos). 
[3] O seminário de Teresópolis ocorreu no Rio de Janeiro em 1970, reuniu 35 participantes, tinha como objetivo dar continuidade ao movimento anterior iniciado em Araxá discutiu organizado em dois grupos a importância da metodologia no serviço social. Teve como diferencial a não elaboração de um documento final.
[4] O método “BH”, como ficou conhecido, foi à experiência realizada na Universidade Católica de Belo Horizonte entre 1972-1975. Nele foram lançadas as bases (emersão) do processo de intenção de ruptura com o serviço social tradicional, trazendo discussões importantes de caráter político, teórico e interventivo.
[5] Em nível de Mestrado foram criados: PUC\SP (1971); PUC\RJ (1972); UFPB (1978); UEPE (1979); NB (1989) e em nível de doutorado: PUC\SP (1981) e PUC\RJ.
[6] O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) foi criado em 195, é uma agência do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) destinada ao fomento da pesquisa científica e tecnológica e à formação de recursos humanos para a pesquisa no país.
[7] A Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (atual CAPES) foi criada em 11 de julho de 1951, pelo Decreto nº 29.741, com o objetivo de "assegurar a existência de pessoal especializado em quantidade e qualidade suficientes para atender às necessidades dos empreendimentos públicos e privados que visam ao desenvolvimento do país".


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