A PESQUISA SOCIAL E SUA IMPORTÂNCIA PARA
Rogério Rodrigues de Souza Freire[1]
A PROFISSÃO DO ASSISTENTE SOCIAL
RESUMO: O presente estudo se destina ao
componente curricular Pesquisa I, como requisito para obtenção da nota da
primeira unidade. Aqui estudamos o papel da pesquisa social, sua importância e
elementos essenciais para que assim, possa ser um meio importante para o
enfrentamento da questão social e os elementos que compõe a analise e o
conhecimento do referencial estudado. Com isso a pesquisa torna-se elemento
singular para o conhecimento de questões relevantes para o serviço social, que
entra no enfrentamento social tendo um conhecimento base do campo estudado.
Palavras
chave: pesquisa
social, serviço social, campo de pesquisa.
INTRODUÇÃO
O serviço social no Brasil lança suas bases nos anos
trinta, imbuído da tradição européia e norte-americana. Em 1936, surge a
primeira escola de serviço social em São Paulo. Aqui os primeiros assistentes sociais
se fundamentam em uma tradição baseada na teologia social da Igreja Católica,
que encontra seu alicerce no Catecismo Católico.
Neste momento, o voluntarismo arraigado na fé católica
influencia sobre os assistentes sociais. As beatas e os beatos têm uma função
importantíssima, pois na medida em que fazem seu trabalho, também transmitem a
ideologia católica. Isto se dá principalmente porque na época a grande maioria
dos assistentes sociais eram católicos praticantes, como também membros de
setores abastados da sociedade burguesa da época.
Assim, nos primórdios do serviço social não havia uma
preocupação com a investigação, ou seja, a profissão se construir tendo como
base a intervenção (o fazer profissional). Não é em vão que ficou conhecida,
neste momento, como “disciplina do agir” (SOARES, 1996, p.1).
Percebemos uma mudança mais acentuada desta visão nos anos
sessenta, quando a perspectiva de intenção de ruptura no serviço social, dá
seus primeiros passos, mesmo que não conseguindo de imediato, sendo abortado com
o golpe militar de 1964, quando foi instalada a ditadura militar brasileira. Em
Araxá[2]
(1967) e Teresópolis[3]
(1970) o serviço social pensou uma profissão preocupada com a metodologia e com
uma fundamentação teórica.
Nos anos setenta com esse ideário de ruptura chegando a
universidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, com a criação do método “B.H”[4] (1972-1975), o espaço da perspectiva renovadora da
profissão se destacou, tentando romper com o serviço social tradicional.
Aqui avanços e continuidades, são postos à Renovação do serviço social, esse processo
torna-se incipiente.
Portanto, a profissão, aos poucos foi avançando no
sentido de uma postura investigativa, passando a perceber a relevância da
pesquisa tanto na formação profissional quanto na prática cotidiana.
A PESQUISA SOCIAL E O SERVIÇO SOCIAL
O conceito de pesquisa
social que norteará este trabalho é o defendido por LAKATOS (1998).
Entendemos por pesquisa a entidade
básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma prática
teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e
permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se
esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados. (LAKATOS, 1998,
p.23).
Dessa forma a pesquisa é
um suporte importantíssimo para obtenção de dados que fundamentam uma
determinada teoria ou sistema. É nela que são buscados os resultados capazes de
direcionar, comprovar ou negar hipóteses em relação ao objeto pesquisado.
LAKATOS (1998), também
apresenta cinco tipos de pesquisa: a pesquisa básica, onde há a elaboração de
teorias; a pesquisa estratégica, que tem como norteadores os problemas sociais;
a pesquisa orientada para um problema específico, que visa responder problemas
práticos e operacionais; a pesquisa ação, imbuída de uma prática, ou seja, o
pesquisador também é cooperador e a pesquisa inteligência, onde são feitos
levantamentos de dados demográficos, estatísticos, econômicos, etc; como por
exemplo o IBGE.
Nesse caminho constatamos
que o modelo de pesquisa que mais se usa no serviço social é a pesquisa
orientada para um problema específico e a pesquisa ação, isso não quer dizer
que não fazemos dos outros modelos. No entanto, o profissional da nossa área
tem como objetivo não somente levantar e coletar dados mas traçar cominhos para
o enfrentamento da realidade estudada, trazendo assim os resultados para seu
fazer profissional, interagindo com a realidade.
Essa pesquisa ganha
destaque fundamental com o avanço das tecnologias e do capitalismo industrial
nos últimos séculos. O desejo de produzir respostas capazes de alimentar os
anseios da sociedade ultrapassa o campo das profissões, raças, situação
econômica e social.
No campo social a pesquisa
se destaca por lidar com o cotidiano, o ser humano é colocado no centro das
discussões, no entanto, estas, muitas vezes ultrapassam barreias morais e ideológico-culturais,
colocando no bojo dos conflitos pesquisados questões fundamentais para a
compreensão do homem enquanto ser complexo.
Do assistente social, profissional capaz de
dialogar com diferentes áreas do conhecimento, é cobrada a competência de
investigar e produzir conhecimentos. A pesquisa vai ganhar destaque em nossa
profissão. No processo de consolidação e espraiamento da intenção de ruptura com
o Serviço social tradicional.
A inserção acadêmica de
assistentes sociais durante a ditadura tornou possível a interação intelectual
crítica com investigadores de outras áreas e a dedicação à pesquisa nos cursos
de graduação criando grupos de pesquisa, avanço e aperfeiçoamento dos campos de
estágio, o que resultou no crescimento da elaboração de monografias como resultados de
pesquisa de campo e do estágio supervisionado.
Nesse contexto, como
define SOARES (1996), percebemos que a pesquisa torna-se elemento importante
para os profissionais da área, impulsionando o surgimento dos primeiros cursos
de mestrado e doutorado nos “anos 70” [5],
frisando assim, que a nossa profissão deve percorrer um caminho de investigação
e pesquisa continua e não apenas se apossar de elementos já discutidos em
outras ciências.
Esse crescimento, acima
citado, nos possibilita entender que, o ensino e pesquisa devem caminhar lado a
lado, para isso os desafios e obstáculos laçados pelo caminho devem ser
superados. Para tanto, estes profissionais são chamados acompanhar a linha
tênue das transformações gestadas dentro do modelo vigente.
Nesse sentido a área de
serviço social vem obtendo reconhecimento nos órgãos de fomento CNPq[6] e
CAPES[7],
por contribuir com pesquisas relevantes sobre os mais variados temas, trazendo
para o cenário social assuntos até então vistos apenas numa ótica histórica,
fornecendo assim, elementos para que sejam criadas políticas de enfrentamento
às mais variadas manifestações da questão social.
As transformações
ocorridas nos colocam em um cenário de discussões relevantes para a sociedade,
onde o capital, a democracia e a questão social são elementos indissolúveis.
Nesse caminho, IAMAMOTO
(1993) aponta a importância do debate acadêmico-profissional, para que seja
possível uma ultrapassagem de uma visão doméstica, familiar e consensual das
relações profissionais, impulsionando uma aproximação do Serviço Social às
fontes clássicas e contemporâneas do pensamento social na modernidade.
Nesse sentido Marx,
torna-se um “referencial teórico-metodológico inesgotável”, contribuindo para a
pesquisa e para prática profissional. Esta aproximação com as obras marxianas
trouxe para o Serviço Social um arcabouço teórico-crítico de importância
substancial, pois um caráter critico à profissão fazia-se necessário. Tendo em
vista que a profissão desde o seu nascedouro era destituída deste caráter, dada
sua aproximação com ideologias religiosas e burguesas.
Esse pensamento critico trouxe discussões ao
bojo do serviço social, antes deixadas de lado, como as estratégias de
enfrentamento, o conhecimento do objeto de estudo e o método usado no processo
de produção acadêmica. Dessa forma, o empirismo e o utilitarismo puderam ser
ultrapassados.
As diretrizes Curriculares de 1996 enquanto grandes
impulsionadoras da pesquisa investigativa no serviço social, deu suporte para capacitação
teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativo para
a profissão, pois nela foi reafirmada a necessidade de um conhecimento da realidade
que em o profissional está inserido impulsionando para isso uma formação mais
aprofundada da história social e seus frequentes avanços.
Ao
mesmo tempo em que esta linha de pensamento trouxe avanços ao serviço social,
ela também trouxe grandes obstáculos. Pois, ao se inserir num caminho
investigativo o pesquisador se coloca num cenário de limites, se deparando com
ideais bem definidos, de um lado, estão as grandes instituições financeiras e
monopolistas, de outro, o fazer ético do profissional investigativo e sua
relação com a pesquisa. BOURGUIGNON (2007) nos leva a refletir esta realidade:
Reconhecemos que a
própria inserção da profissão na divisão sócio-técnica do trabalho impõe
limites quanto aos investimentos institucionais, para fomento à pesquisa,
quanto ao reconhecimento da sua produção, bem como quanto a incorporação da
prática investigativa pelos profissionais. (BOURGUIGNON, 2007, p. 49)
A pesquisa em si parti de
questionamentos, surge de uma indagação, de uma pergunta feita em relação ao
objeto estudado, é uma ultrapassagem da realidade posta, de um imediatismo, de
uma aparência que se mostra de início como única verdade.
Cabe ao investigador fazer
a mediação entre a realidade imediata e aquela posta na obscuridade das
entrelinhas do objeto investigado. Dessa forma, é possível uma distanciação do
aparente e, consequentemente, aproximação da essência dos fatos buscados.
Dessa forma a categoria
“particularidade” torna-se indispensável para o serviço social. BOURGUIGNON citando
LUKÁCS (1970, p.103-104) vai dizer: a particularidade se constitui de “um campo
de mediações”, a partir do qual podemos apreender o movimento dialético do
universal ao singular: “O movimento do singular ao universal e vice-versa é
sempre mediatizado pelo particular; é um membro intermediário real, tanto na
realidade objetiva quanto no pensamento que a reflete de um modo
aproximativamente adequado”.
Assim, percebemos que na
pesquisa, não podemos nos deter às primeiras constatações, devemos ultrapassar
esse estágio (aparência) e ir em busca de outras possibilidades de compreensão
(essência).
O conhecimento produzido a
partir de então será capaz de colocar o sujeito social no centro das discussões
sociais. Os impactos trazidos com a pesquisa nos despertará para realidades
novas capaz de refletir sobre problemas de ordem central para o contexto
histórico-político e profissional.
A pesquisa assim é um
elemento crucial na produção de conhecimento, um processo capaz de produzir
efeitos importantes no meio em que é realizada.
Contudo, a pesquisa ainda
continua sendo um privilegio de uma “elite profissional”, ou seja, ainda não se
disseminou para a totalidade dos alunos de serviço social e para os assistentes
sociais como todo.
Percebemos essa realidade
de forma latente, quando verificamos que muitas informações são retidas ou
minimamente divulgadas pelos setores responsáveis, tendo por trás um jogo de
interesses e “um certo tráfico de influências”.
Os requisitos exigidos
também são elementos utilizados para uma seleção dos “melhores e mais
capacitados” para o ingresso nos grupos de pesquisa e extensão. Dentre estes
requisitos a disponibilidade, o coeficiente escolar e a produção acadêmica são
indispensáveis.
Nesse processo comumente
ficam aqueles que possuem maior disponibilidade, o que não quer dizer que sejam
os “melhores e mais capacitados” para tal tarefa.
Portanto, a pesquisa é
também um divisor de águas no sentido de favorecer a elaboração de teorias e
sistemas e ao mesmo de selecionar os aptos ao processo investigativo. Nesse
sentido, ficam de fora muitos alunos e profissionais que não se encaixam nos
parâmetros estipulados pelo sistema responsável.
APROXIMAÇÕES
CONCLUSIVAS
A
pesquisa social ao longo da história se constituiu como sendo um elemento
central para produção de conhecimento, seja ele usado na prática profissional
do assistente social ou de forma mais geral na sociedade.
Percebemos
que, neste percurso, muitos desafios são apresentados, desde o momento em que
são selecionados os pesquisadores, temas e campos de pesquisa, pois o
pesquisador se depara com obstáculos e dados de uma realidade que não revelam
as diversas expressões da questão social.
Assim
o pesquisador enfrenta o desafio de interpretar os dados colhidos e de
fornecê-los, mais tarde à população acadêmica e social, tendo em vista a
relevância de fazer o caminho de volta, ou seja, devolver os resultados aos
sujeitos da pesquisa.
O
profissional encontra desafios, ainda, maiores, pois no ato de investigar as
informações podem ser dadas de forma incorreta, ou até mesmo distorcidas. Isto
conduz a resultados distantes da realidade.
Portanto,
a pesquisa social se constitui como um dos alicerces principais na compreensão
da realidade social e da construção de novos conhecimentos essenciais para prática
profissional, de forma especifica, do assistente social.
Não
basta só compreender o que é a pesquisa social, mais sim compreender seu lugar
enquanto ponto de partida para a profissão, e consequentemente, elemento
fundante de melhorias e conhecimentos tanto no curso de formação quanto no da
prática profissional.
Dessa forma será possível
a comunidade social e acadêmica colher os frutos essenciais ao desenvolvimento
do saber, dentro de uma realidade social, toda ela formada de sujeitos capazes
de estudar e refletir sobre os fatos gestados a cada dia dentro do bojo sóciopolítico
e histórico vigente.
REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA
ABEPSS, Rio de Janeiro. (dispõe
sobre as diretrizes curriculares para o serviço social Com base no Currículo Mínimo aprovado em Assembléia Geral
Extraordinária de 8 de novembro de 1996). Ano 1996
BATTINI, O. A atitude investigativa
e formação profissional: a falsa dicotomia. In: Serviço Social e Sociedade,
Nº 45. São Paulo. Editora Cortez, 1994.
BOURGUIGNON. J. A. A particularidade histórica da pesquisa no
Serviço Social. Revista Katalysis, Florianópolis,
2007.
IAMAMOTO, M. V. Ensaio e pesquisa no Serviço Social: desafios na construção de um
projeto de formação profissional. Caderno
Abess. São Paulo, 2003.
LAKATOS, E. M; MARCONI, M. de A. Metodologia científica. 2 ed. São
Paulo: Atlas, 1998.
PEREIRA, P.
A. P. A utilidade da pesquisa para o Serviço Social. Revista Serviço
Social e Saúde, v. 4. N. 4. Campinas, 2005.
RICHARDSON, R. J. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 2005.
SOARES, M. de L. O percurso da pesquisa no âmbito do Serviço Social. João Pessoa:
UFPB, 1996.
[1] Graduando do 2° ano em serviço social
pela Universidade Estadual da Paraíba - UEPB; rrsouzafreire@gmail.com
[2] O seminário de Araxá está dentro do
movimento de reconceituação e teorização do serviço social, ocorrido em Minas Gerais em 1967,
onde foi discutido questões relevantes para o serviço social na época, isto se
deu em plena ditadura militar. A participação foi bem reduzida não chegando a
quarenta participantes tendo como propostas ações voltadas para macroatuação
(política e planejamento) e a microatuação (serviços diretos).
[3] O seminário de Teresópolis ocorreu no
Rio de Janeiro em 1970, reuniu 35 participantes, tinha como objetivo dar
continuidade ao movimento anterior iniciado em Araxá discutiu organizado em
dois grupos a importância da metodologia no serviço social. Teve como diferencial
a não elaboração de um documento final.
[4] O método “BH”, como ficou conhecido,
foi à experiência realizada na Universidade Católica de Belo Horizonte entre
1972-1975. Nele foram lançadas as bases (emersão) do processo de intenção de
ruptura com o serviço social tradicional, trazendo discussões importantes de
caráter político, teórico e interventivo.
[5] Em nível de Mestrado foram criados:
PUC\SP (1971); PUC\RJ (1972); UFPB (1978); UEPE (1979); NB (1989) e em nível de
doutorado: PUC\SP (1981) e PUC\RJ.
[6] O Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) foi criado em 195, é uma
agência do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) destinada ao fomento da
pesquisa científica e tecnológica e à formação de recursos humanos para a
pesquisa no país.
[7] A Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (atual CAPES) foi criada em 11 de julho de 1951, pelo Decreto nº
29.741, com o objetivo de "assegurar a existência de pessoal especializado
em quantidade e qualidade suficientes para atender às necessidades dos
empreendimentos públicos e privados que visam ao desenvolvimento do país".
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