Desde
os primórdios os homens lutam uns contra os outros, seja por alimento, seja por
moradia. Nesta constante luta tentam se afirmar, como pessoas que tem sua
individualidade, mesmo vivendo em bandos, clãs, famílias e finalmente em
sociedade.
Vivendo em
condições de seres sociais que estabelecem relações recíprocas, os homens
enfrentam desafios maiores que os enfrentados nas outras etapas, pois nelas as
leis civis não controlavam seus instintos comportamentais, entre os quais
destacamos o uso da liberdade, que o homem constantemente busca afirmar perante
aqueles que estão ao seu redor, ao contrário da vivência em sociedade, em que
todas as normas são estabelecidas pela lei.
Nesta
contraposição entre individualidade e sociedade o homem pode com suas atitudes
impedir ou proporcionar o uso da liberdade do outro, pois a vida em sociedade
implica na limitação da liberdade para todos os seus membros.
A partir desta configuração, nos
sentimos impulsionados a desvendar nas entrelinhas do pensamento filosófico
agostiniano sua concepção de liberdade. Sendo assim, nos aventuramos nas obras
de Agostinho (354-430), filósofo e teólogo do período patrístico. Buscamos
respostas que nos ajudam compreender a liberdade humana, temática tão discutida
ao da história.
Iniciamos nossa pesquisa pela obra “O Livre-arbítrio”, pois Agostinho
apresenta a concepção de liberdade imbuída de um entrelaçamento entre pensamento
filosófico e teológico, com o intuito de alertar e esclarecer seus amigos e
leitores em relação ao Maniqueísmo - doutrina criada pelo persa Mani no século
III, fundamentada em duas divindades supremas que presidem o mundo – o bem e o
mal. Agostinho esteve inserido nessa seita por 9 anos.
Após
a conversão ele tenta combater a noção maniquéia de que existem dois princípios
supremos, coeternos criadores do mundo a presidir o universo: o Bem e o Mal – a
luz e as trevas. Tais princípios vivem a combater entre si, este combate que é
realizado a pé de igualdade, ambos de natureza corpórea. O Bem (Deus), não
seria o único principio criador, o mal (diabo), exerceria seu poder sobre a
natureza, Isto é, sobre as coisas corporais.
O
homem não seria livre para praticar suas ações, este princípio mal exerceria
sobre ele um poder o impulsionando a agir contrariamente a sua natureza livre.
Por conseguinte toda responsabilidade humana não passaria de uma ilusão, pois
dentro de si mesmo cada homem carregaria uma mistura de trevas e de luzes. Isto
isentaria o homem das más ações, isto é, da qualidade do pecado, pois não seria
ele, mas o mal nele presente que as realizaria.
Agostinho
acredita que é do homem que parte o desejo de pecar, sendo dele também a responsabilidade
de suas ações. Ele, no entanto, não é capaz por suas próprias forças de vencer
os obstáculos do trajeto para a liberdade plena, pois estes obstáculos só podem
ser vencidos pela força da graça.
Percebemos que do mesmo modo que o livre-arbítrio
da vontade procede de Deus, seu fim também é Deus que nos direciona a Ele.
Portanto, a liberdade primeira, aquela que fora dada a Adão, perdida pela
desobediência, será recuperada e constituirá no não poder pecar. Esta será dada
ao homem como dom divino, constituindo a participação do mesmo na
impecabilidade divina, isto é, na capacidade de não mais pecar. A primeira
liberdade, aquela dada a Adão, foi nos dada para que por meio dela pudéssemos
buscar esta última, a liberdade plena. O homem viverá tão plenamente a sua
liberdade que o mal e suas cadeias não mais exercerão seu poder sobre sua
natureza.
Desse modo, para
entendermos a concepção de liberdade apresentada por Agostinho, procuramos
traçar alguns objetivos que nos ajudassem em nossa análise: Contextualizar o
período em que Santo Agostinho viveu, apresentando os principais pontos do seu
pensamento percebendo o entrelaçamento entre filosofia e teologia; Buscamos
perceber no pensamento agostiniano acerca da liberdade a influência dos vícios
e das paixões sobre a vontade humana; Por último, buscamos enfatizar a
importância da sabedoria e da graça na superação das limitações humanas em
busca da liberdade.
Para tanto, sistematizamos
o nosso trabalho monográfico em três capítulos: No primeiro, apresentamos o
contexto histórico da filosofia agostiniana, situando-o no tempo e na história,
destacando as influências sofridas por ele em sua trajetória intelectual; No
segundo capítulo, percorremos o trajeto feito pelo homem em busca da liberdade,
percebendo seus primeiros fundamentos, sua queda nos vícios e nas paixões
destacando que eles impedem que o homem tenha a capacidade de fazer suas
escolhas livremente, e o auxílio constante das virtudes na superação daqueles;
No terceiro capítulo, procuramos apresentar a liberdade em plenitude, enfocando
a importância da sabedoria e da graça divina, no exercício constante de fazer o
bem, isto é, da liberdade, esta que tem como seu princípio e fim Deus. Assim,
demonstramos como na filosofia agostiniana é possível o homem alcançar a
liberdade plena.
Certamente a abordagem
sobre a liberdade discutida em nosso trabalho, nos leva a refletir sobre sua
importância na sociedade em que vivemos, considerada por alguns como
“civilizada e moralmente livre”. Distante ou próximo do seu Criador, cada
homem, é convidado a viver sua liberdade com plenitude e responsabilidade,
possibilitando a si e aos outros a chance de viver livre, fazendo o bem.
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