quarta-feira, 20 de junho de 2012

Etnocentrismo







ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo. 1. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984. (Coleção Primeiros Passos, 124).

Pensando em partir
No etnocentrismo, o “eu” julga o “outro” pelos seus próprios valores havendo a dificuldade de aceitar as suas diferenças, e é através da constatação destes que se origina o etnocentrismo, pelo choque de culturas. O sentimento de estranheza é inevitável, pois ocorre a ameaça de “nossa” própria identidade cultural tendo em vista que, de qualquer forma, o “eu” é representado como o melhor, é quando o julgamento e a comparação do “outro” que é tido como inferior por apresentar hábitos ou opiniões diferentes acontece.


O etnocentrismo não é aplicado a uma única sociedade e a atitude etnocêntrica sustenta o pressuposto do “outro” não ter voz nem vez. A ótica etnocêntrica passa por um julgamento da cultura do “outro” nos termos da cultura do grupo do “eu”. Mas, diante de todo esse contexto, existem idéias que vão de encontro ao etnocentrismo e uma das mais importantes é a relativização. Ela faz com que cada ponto de vista seja respeitado e possa existir de acordo com a sua história e significação; é o contrario do etnocentrismo.


A Antropologia Social é uma ciência que busca estudar a diferença entre os seres humanos com o compromisso de procurar superá-la.             



Primeiros Momentos



No final do século XV e inicio do século XVI discute-se e especula-se, nos centros avançados de estudo, sobre as possibilidades teóricas e os desenvolvimentos técnicos necessários á dilatação do império e á conseqüente alteração das fronteiras do mundo conhecido. Dessa maneira surgia para o pensamento ocidental um conjunto de novas questões, interesses e paradoxos. Onde o mundo do eu se via obrigado, a pensar a diferença do outro. Com vários questionamentos como “o que significa o novo mundo?” entre outras questões.


Assim, se iniciava a busca de respostas que explicassem a diferença. O encontro entre a sociedade do eu e a sociedade do outro, no século XVI constituiu em uma das arenas principais. Era complicado de se entender no começo, mas porem era o inicio de uma nova forma de pensar o outro, dando-se o nome de Antropologia Cultural e Social sem preconceitos de qual das duas está com a verdade.


A noção de evolução é um marco fundamental para o pensamento antropológico. Ela vai aparecer como idéia básica para toda uma grande fase da teoria antropológica e na historia dos saberes sobre o ser humano, tem um lugar de destaque, quase que como uma ancora, para os trabalhos e estudos que procuram fazer da antropologia uma ciência. 


No século XV e XVI atravessou-se um momento de espanto e perplexidade, que só vai encontrar nos séculos XVIII e XIX uma nova explicação: o outro é diferente porque possui deferente grau de evolução.


Evolução, no seu sentido mais amplo, entende-se como equivalendo a desenvolvimento, a transformação progressiva no sentido da realização completa de algo latente.


Para o evolucionismo antropológico a noção de progresso torna-se fundamental, pois é no seu rumo que a história do homem se faz. Acredita-se na unidade básica da espécie humana e o fator tempo passa a ser bastante importante. Saindo de estágios mais primitivos numa trajetória de permanente progresso onde o tempo é a teia onde se tece a evolução.


O etnocentrismo estava em achar que o outro era completamente dispensável como elemento de transformação da teoria. A magia desse processo consiste em que quanto mais sabemos mais sabemos o quanto falta saber. Partindo daí, a consciência que leva a antropologia a explodir os esquemas simplificadores do evolucionismo e assim a ampliar seu campo de estudo.

O passaporte


A terceira categoria destacada no texto é o “Passaporte”, no qual aborda que o século XX traz para a Antropologia uma série de novas idéias, formuladas por um grupo de estudiosos. Com isto, o etnocentrismo vai aos poucos se desestruturando dentro da disciplina. O passo inicial dado em busca dessa superação do etnocentrismo foi dado pelo alemão Franz Boas. Ao seu nome se liga uma escola de pensamento que ficou conhecida como difusionismo ou escola americana.


Boas juntamente com um grupo de alunos, relativizam as noções de evolucionistas, como também as idéias de cultura e história. Ele é o primeiro a perceber a importância de estudar as culturas humanas em seu particular. Cada grupo com suas condições históricas, climáticas, lingüísticas, produzem uma determinada cultura, que se caracteriza por ser única exclusiva. Boas, volta-se definitivamente para o mundo do “outro”.
     
Outra obra de destaque “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freyre, que por sinal também foi aluno de Boas, traz uma abordagem a cultura brasileira, observando o universo microscópico do cotidiano, o que os brasileiros fazem e pensam para criar uma forma particular de ser na vida. Outros grupos se desenvolveram em busca do mesmo objetivo, a superação do etnocentrismo. Um grupo investiga a relação entre a cultura e o ambiente, um segundo relaciona a mentalidade dos indivíduos com a cultura por eles vivida, e um terceiro grupo investiga as relações entre a linguagem e a cultura.
    
Começaremos pela escola personalidade e cultura que tem como características principais, estabelecer uma relação entre a cultura e as personalidades individuais, como se a cultura influenciasse diretamente na vida humana. A cultura seria um conjunto de características que estariam impressas nas personalidades humanas. Um dos problemas nessa escola é o que chamamos de reducionismo, ou seja, a dificuldade de explicarmos o todo – a cultura – por uma de suas partes, nesse caso a personalidade.


O segundo grupo no qual vem estudar a relação entre a cultura e a linguagem destaca que, cada língua ao se deparar com a realidade a transforma em algo. A língua é para aqueles que a falam, um fator determinante que organiza sua visão de mundo. O terceiro e último grupo na qual relaciona a cultura e o ambiente, pressupõe que o ambiente é o fator que determina as opções culturais.
A cultura é uma resposta adequada ao meio onde se estabelece. Os elementos culturais inseridos em um ambiente passam por mudanças, readaptações, etc. Diante de toda essa abordagem, podemos concluir que o “outro” passa a ter um lugar de destaque, passa a ser estudado como algo relevante, deixando de ser um simples momento do “eu”.

Voando Alto


Para o evolucionismo, a humanidade caminha em uma só direção que é a evolução, mas para o pensamento difusionista deve-se estudar particularmente cada povo. Para historicistas o presente se conhece através dos estudos.


Radicliffe-Brown questiona essa maneira de estudo e utiliza o funcionalismo no intuito de empurrar o estudo do “outro”, da “diferença”, para fora do etnocentrismo. A antropologia se separa da história e se direciona para o estudo da sociedade do “outro” sem se preocupar com o passado desta sociedade. A sociedade do “eu” tem o tempo como instrumento básico para compreensão da vida.             Quando a antropologia se afasta da história abre um lugar para que a sociedade do “outro” apareça com ela é.


Na ligação entre o “eu” e o “outro” ocorre uma diminuição no etnocentrismo. Para Brown deve-se existir uma ligação entre, “processo”, “estrutura” e “função”, pois estes formam um esquema para interpretar a realidade. O “processo social” é a criação das relações sócias onde ocorre um envolvimento sistemático entre todos.


Durkheim afirma que o social não se explica pelo individual, pois toda a sociedade não se pode explicar apenas pelo individuo. O fato social é coercitivo, extenso, e externo. Assim o fato social induz o homem a uma participação independente da sua vontade, não conseguindo o homem se excluir deste se ele for envolvido, o fato social independe da vontade do individuo.


Malinowski passa 31 meses em uma aldeia, no intuito de visitar o mundo do “outro”, assim ele consegue repensar o próprio “eu” através de uma relativização entre um e outro. Onde a sociedade do “outro” é utilizada para que a sociedade do “eu” possa se vê.


Todos estes homens tentaram superar o etnocentrismo e usar as diferenças como conquistas.

A volta por cima
        
A contribuição de Claude Lévi-Strauss foi muito importante, sendo ele o autor de algumas das obras mais importantes da Antropologia, ressaltando a necessidade de se conhecer o outro, na sua experiência ele relata sua convivência com os índios, ao qual ele se dizia “discípulo e testemunha”.


É preciso constatar a incansável busca da Antropologia pela relativização, tentando se desprender da visão etnocêntrica do “eu”, que acaba influenciando no conhecimento do “outro”. A Antropologia com o passar do tempo identificou essa necessidade de conhecer o outro e sua diferenças, não como ameaça a ser destruída, mas como contribuição a humanidade.


A autonomia alcançada por ela fez com que ele se desvencilhasse de certos pré-requisitos do “eu” para conhecer o “outro, o que anteriormente não poderia acontecer já que se tinha um conceito de cultura pré- estabelecido ao qual não conseguia se soltar. Um dos maiores desafios da antropologia foi deixar essa visão do “eu”, já que ela foi concebida na sociedade do “eu”.
        
A Antropologia teve como artifício para o conhecimento do outro a pesquisa de Campo, que levou o pesquisador a conhecer e vivenciar as realidades estudadas, para construir de forma correta uma visão relativa e não mais etnocêntrica. Quando a Antropologia se guiou pela sociedade do “eu”, acabou fugindo totalmente a sua real vocação, a de preservar a diversidade em prol da relativização.
         
As noções de cultura estavam intimamente ligadas a questões históricas, onde a própria história contada pelo “eu” aparecia como verdadeira, eliminando qualquer participação do outro na construção da mesma. Com outros autores a idéia de cultura ganha outros traços se desprendendo da história.
         
É o próprio Lévi-Strauss que vai descartar a importância da história para o entendimento do outro, já que não se tem uma única história, existe várias, não se pode basear na história de uma sociedade desenvolvida para entender o porquê que a outra não se desenvolveu, cada sociedade ou até mesmo o individuo passa por mutações diferenciadas, o que deixa ainda mais complexo de se entender o “outro”. Em uma de suas obras “Estruturas Elementares do Parentesco”, Lévi Strauss vai mostrar um modelo típico de etnocentrismo, que é a questão da família, na nossa visão nuclear como o coração do sistema, ou seja, universalizamos um único modelo de família como o ideal e o único aceitável, qualquer outro modelo de parentesco que não seja consangüíneo parecia até mesmo absurdo
        
Boas juntamente com seus alunos, foi o grande responsável pela contribuição dada na tentativa de superar o etnocentrismo, que ainda é muito presente. A cultura agora pode ser observada a partir de diversos segmentos, como, a linguagem, o ambiente e até mesmo o comportamento dos indivíduos.
      
A Antropologia busca a relativização das situações para um possível conhecimento, eliminando essa visão etnocêntrica de que o “eu” é algo normal e que o “outro” se apresenta sempre como algo inaceitável e esquisito se ele não comunga das mesmas qualidades e referências existentes no “eu”. O mundo que a antropologia espera é um mundo relativo e complexo, até mesmo chegando ao ponto de conhecer o “outro” antes mesmo de conhecer o “eu”.

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