Em todas as áreas do
conhecimento é importante um desvelamento da realidade em que se está inserido.
Nesse processo, cabe aos agentes da produção do conhecimento um constante
questionamento e não aceitação da realidade. É de suma importância buscar
compreender os traços e fundamentos daquilo que até então baseiava-se num
conhecimento ainda a priori, advindo do senso comum, portanto, obscuro e
ineficiente para responder as indagações surgentes.
No Serviço Social,
pensar em produção do conhecimento e em pesquisa é pensar numa atualização das
bases intelectuais, técnico-operativas, interventivas e numa crítica a cerca da
realidade vivenciada pela profissão nos mais diferentes ramos da sociedade.
É pensar a prática a partir de uma visão
ampla e societária. Esta tarefa não é fácil, tendo em vista que a profissão é
relativamente nova, sendo ainda perpassada por características conservadoras e
positivistas, de manutenção da realidade vigente.
O processo de
reconceituação[1]
da profissão foi importante nesse processo, pois, proporcionou aos
profissionais um crescimento no campo da pesquisa e um aprofundamento de
questões relativas à sociedade e suas múltiplas facetas, além de analisar e
pesquisar sobre as práticas profissionais, trazendo preocupações antes não
discutidas, produzindo assim conhecimento.
Com a ofensiva
neoliberal e constante crescimento das manifestações da questão social, o
serviço social inserido dentro de um contexto antidemocrático, capitalista e
excludente, viu-se inebriado de concepções incapazes de responder as demandas
que surgia, uma “crise de paradigmas” toma a cena política. Pesquisar tornou-se
para a categoria uma questão fundamental, pois, novos profissionais entram no
mercado de trabalho todos os anos e estes precisam cultivar uma linha
investigativa constante, desde a graduação até o mestrado e o doutorado,
buscando nestes não somente atingir uma necessidade mercadológica, mas sim um
aprofundamento de questões relativas a profissão e as demandas que a cercam.
Uma postura crítico-dialética
torna possível uma relação de análise e diálogo sobre a realidade, agora não
cabe uma aceitação do que é tido como realidade histórica, é preciso refletir,
questionar e buscar respostas a esta realidade dada, romper os muros impostos
pelos defensores de uma acriticidade e demasiada preguiça intelectual. A
intervenção necessita assim de uma base teórica rica e alicerçada, não basta à
operacionalização, a prática pela prática, uma manipulação da realidade. Cabe
agora um constante crescimento e aperfeiçoamento dos grupos de pesquisa e
extensão, proporcionando a eles elementos financeiros e teóricos suficientes
para o avanço necessário. Não se limitar a apenas publicar, enumerar e
socializar resultados, através de periódicos como a “Revista Temporalis” e a
“Serviço Social e Sociedade”, mas ampliar esta rede de partilha e
aperfeiçoamento dos conhecimentos gestados através da pesquisa e impulsioná-la.
A tarefa da pesquisa e
produção do conhecimento não apenas se limita a preparar e a capacitar para o
mercado de trabalho, como deseja o grande capital, cabe a estas contribuir para
uma sociedade mais crítica e reflexiva. Dessa forma, as ideias e as obras de
Marx proporcionam ao serviço social uma capacidade de entender a realidade como
transformação histórica e social. Buscar o eixo capaz de responder as
interlocuções que surgem no seio da profissão, perceber a força do capitalismo
e as transformações no mundo do trabalho.
No cenário vivenciado
pela profissão nos últimos anos, percebemos um nítido crescimento na pesquisa,
principalmente na pós-graduação, nos cursos de mestrado e doutorado, há uma
preocupação em formar profissionais adequados ao mercado nacional e estrangeiro,
atualizados tecnicamente, prontos para o recrutamento de mão de obra
qualificada.
Guerra 2011 assim
afirma:
É
importante ressaltar que a critica da pós-graduação no Brasil obedece à mesma
lógica de tantos outros processos históricos do Brasil e de outros países da
América Latina: foi criada pelo alto, para atender aos interesses de uma
burguesia nacional e, sobretudo, estrangeira. (GUERRA, 2011, p.129)
Ainda é tímido o
processo de formação voltada a uma postura crítica e renovadora do modelo
adotado pela burguesia capitalista. Conhecimento aqui não é sinônimo de saber,
este último torna o indivíduo capaz de ultrapassar as barreiras impostas pelos
modelos majoritários, e esta é a função primordial do exercício investigativo,
nunca se contentar com o que se apresenta como sendo o real. Há sempre uma
barreira a ser vencida, e esta nos é possível através da razão investigativa,
capaz de iluminar o obscuro caminho da ignorância intelectual da sociedade
capitalista.
Não podemos permitir que
o modelo proposto nos últimos anos para a educação, motive a formação e a pesquisa
a serem meros intermediários, fios condutores de um conhecimento meramente
fracionado, bitolado e especificamente voltados ao treinamento de soldados para
o mercado de trabalho. Esses soldados vem aumentando devido ao incentivo da
política educacional aos cursos via Reuni e Prouni[2], em que abre-se um campo
de oportunidades para todos, muitas vezes sem levar em consideração a
capacidade dos discentes e docentes que irão compor esse exército. Precisamos
de profissionais capacitados e não de números expostos em tabelas quantitativas
que não transmitem a realidade do conhecimento gestado através do ensino, da pesquisa
e da extensão em nosso meio intelectual. É preciso romper esse muro.
Essa lógica quantitativa
é imediatista, fracionada e mercadológica, características fundamentais para o
avanço do mercado, e isto muitas vezes influencia nas linhas de pesquisa
fornecendo um suporte financeiro ou o negando. Segundo Santos (2007, p. 29)
“Tudo é cada vez mais mercantilizável, inclusive os males que o próprio
capitalismo produz”.
A lógica do lucro e da
ganância leva a um mercado negro, em que o papel vale mais do que o
conhecimento adquirido, e para isso se vai às últimas consequências, vende-se
trabalhos, teses dissertações, artigos e tantos outros, no intuito de dá uma
resposta imediata a uma sociedade corrupta, em que somente os políticos são
tidos como tal, quando gestos como esse acontecem corriqueiramente. Não basta
provar que sabemos ou aprendemos algo através de papéis, é preciso nunca se
contentar com o hoje e com o agora, é antes de tudo aperfeiçoar o conhecimento
adquirido, galgar o saber e o transmitir num gesto de continuo aprendizado de
si mesmo.
Referências
GUERRA, Iolanda. A Pós-Graduação
em Serviço Social no Brasil: um patrimônio a ser preservado. Revista Temporalis,
Brasilia (DF), ano 11, n.22, p. 125-158, jul./dez. 2011.
Tavares, Maria Augusta, "A pesquisa no Serviço
Social: a propósito do método", Temporalis,
19, 87-96.
SANTOS, Josiane Soares.
Neoconservadorismo Pós-Moderno e Serviço Social Brasieliro. São Paulo: Cortez,
2007.
SIMIONATO, Ivete. Os defafios
na pesquisa e na produção do conhecimento em Serviço Social. Revista
Temporalis, Brasilia (DF), ano V, n.9, p. 51-61, jan./jun. 2005.
TAVARES, Maria Augusta. A Pesquisa em Serviço Social: a
propósito do método. Revista
Temporalis, Brasilia (DF), ano 10, n.19, p. 87-96, jan./jun. 2010.
YASBEK, Maria Carmelita; SILVA,
Maria Ozanira da Silva. Das origens da profissão: a construção da Pós-Graduação
em Serviço Social. IN: Serviço Social, Pós-Graduação e produção de conhecimento
no Brasil. São Paulo: Cortez, 2005. p. 25-41.