segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A produção do conhecimento: uma questão relevante na atualidade


   
Em todas as áreas do conhecimento é importante um desvelamento da realidade em que se está inserido. Nesse processo, cabe aos agentes da produção do conhecimento um constante questionamento e não aceitação da realidade. É de suma importância buscar compreender os traços e fundamentos daquilo que até então baseiava-se num conhecimento ainda a priori, advindo do senso comum, portanto, obscuro e ineficiente para responder as indagações surgentes.
No Serviço Social, pensar em produção do conhecimento e em pesquisa é pensar numa atualização das bases intelectuais, técnico-operativas, interventivas e numa crítica a cerca da realidade vivenciada pela profissão nos mais diferentes ramos da sociedade. É  pensar a prática a partir de uma visão ampla e societária. Esta tarefa não é fácil, tendo em vista que a profissão é relativamente nova, sendo ainda perpassada por características conservadoras e positivistas, de manutenção da realidade vigente.
O processo de reconceituação[1] da profissão foi importante nesse processo, pois, proporcionou aos profissionais um crescimento no campo da pesquisa e um aprofundamento de questões relativas à sociedade e suas múltiplas facetas, além de analisar e pesquisar sobre as práticas profissionais, trazendo preocupações antes não discutidas, produzindo assim conhecimento.
Com a ofensiva neoliberal e constante crescimento das manifestações da questão social, o serviço social inserido dentro de um contexto antidemocrático, capitalista e excludente, viu-se inebriado de concepções incapazes de responder as demandas que surgia, uma “crise de paradigmas” toma a cena política. Pesquisar tornou-se para a categoria uma questão fundamental, pois, novos profissionais entram no mercado de trabalho todos os anos e estes precisam cultivar uma linha investigativa constante, desde a graduação até o mestrado e o doutorado, buscando nestes não somente atingir uma necessidade mercadológica, mas sim um aprofundamento de questões relativas a profissão e as demandas que a cercam.
Uma postura crítico-dialética torna possível uma relação de análise e diálogo sobre a realidade, agora não cabe uma aceitação do que é tido como realidade histórica, é preciso refletir, questionar e buscar respostas a esta realidade dada, romper os muros impostos pelos defensores de uma acriticidade e demasiada preguiça intelectual. A intervenção necessita assim de uma base teórica rica e alicerçada, não basta à operacionalização, a prática pela prática, uma manipulação da realidade. Cabe agora um constante crescimento e aperfeiçoamento dos grupos de pesquisa e extensão, proporcionando a eles elementos financeiros e teóricos suficientes para o avanço necessário. Não se limitar a apenas publicar, enumerar e socializar resultados, através de periódicos como a “Revista Temporalis” e a “Serviço Social e Sociedade”, mas ampliar esta rede de partilha e aperfeiçoamento dos conhecimentos gestados através da pesquisa e impulsioná-la.   
A tarefa da pesquisa e produção do conhecimento não apenas se limita a preparar e a capacitar para o mercado de trabalho, como deseja o grande capital, cabe a estas contribuir para uma sociedade mais crítica e reflexiva. Dessa forma, as ideias e as obras de Marx proporcionam ao serviço social uma capacidade de entender a realidade como transformação histórica e social. Buscar o eixo capaz de responder as interlocuções que surgem no seio da profissão, perceber a força do capitalismo e as transformações no mundo do trabalho.
No cenário vivenciado pela profissão nos últimos anos, percebemos um nítido crescimento na pesquisa, principalmente na pós-graduação, nos cursos de mestrado e doutorado, há uma preocupação em formar profissionais adequados ao mercado nacional e estrangeiro, atualizados tecnicamente, prontos para o recrutamento de mão de obra qualificada.
Guerra 2011 assim afirma:
É importante ressaltar que a critica da pós-graduação no Brasil obedece à mesma lógica de tantos outros processos históricos do Brasil e de outros países da América Latina: foi criada pelo alto, para atender aos interesses de uma burguesia nacional e, sobretudo, estrangeira. (GUERRA, 2011, p.129)
Ainda é tímido o processo de formação voltada a uma postura crítica e renovadora do modelo adotado pela burguesia capitalista. Conhecimento aqui não é sinônimo de saber, este último torna o indivíduo capaz de ultrapassar as barreiras impostas pelos modelos majoritários, e esta é a função primordial do exercício investigativo, nunca se contentar com o que se apresenta como sendo o real. Há sempre uma barreira a ser vencida, e esta nos é possível através da razão investigativa, capaz de iluminar o obscuro caminho da ignorância intelectual da sociedade capitalista.
Não podemos permitir que o modelo proposto nos últimos anos para a educação, motive a formação e a pesquisa a serem meros intermediários, fios condutores de um conhecimento meramente fracionado, bitolado e especificamente voltados ao treinamento de soldados para o mercado de trabalho. Esses soldados vem aumentando devido ao incentivo da política educacional aos cursos via Reuni e Prouni[2], em que abre-se um campo de oportunidades para todos, muitas vezes sem levar em consideração a capacidade dos discentes e docentes que irão compor esse exército. Precisamos de profissionais capacitados e não de números expostos em tabelas quantitativas que não transmitem a realidade do conhecimento gestado através do ensino, da pesquisa e da extensão em nosso meio intelectual. É preciso romper esse muro.
Essa lógica quantitativa é imediatista, fracionada e mercadológica, características fundamentais para o avanço do mercado, e isto muitas vezes influencia nas linhas de pesquisa fornecendo um suporte financeiro ou o negando. Segundo Santos (2007, p. 29) “Tudo é cada vez mais mercantilizável, inclusive os males que o próprio capitalismo produz”.
A lógica do lucro e da ganância leva a um mercado negro, em que o papel vale mais do que o conhecimento adquirido, e para isso se vai às últimas consequências, vende-se trabalhos, teses dissertações, artigos e tantos outros, no intuito de dá uma resposta imediata a uma sociedade corrupta, em que somente os políticos são tidos como tal, quando gestos como esse acontecem corriqueiramente. Não basta provar que sabemos ou aprendemos algo através de papéis, é preciso nunca se contentar com o hoje e com o agora, é antes de tudo aperfeiçoar o conhecimento adquirido, galgar o saber e o transmitir num gesto de continuo aprendizado de si mesmo.                  
Referências
GUERRA, Iolanda. A Pós-Graduação em Serviço Social no Brasil: um patrimônio a ser preservado. Revista Temporalis, Brasilia (DF), ano 11, n.22, p. 125-158, jul./dez. 2011.
Tavares, Maria Augusta, "A pesquisa no Serviço Social: a propósito do método", Temporalis, 19, 87-96.
SANTOS, Josiane Soares. Neoconservadorismo Pós-Moderno e Serviço Social Brasieliro. São Paulo: Cortez, 2007.
SIMIONATO, Ivete. Os defafios na pesquisa e na produção do conhecimento em Serviço Social. Revista Temporalis, Brasilia (DF), ano V, n.9, p. 51-61, jan./jun. 2005.
TAVARES, Maria Augusta. A Pesquisa em Serviço Social: a propósito do método. Revista Temporalis, Brasilia (DF), ano 10, n.19, p. 87-96, jan./jun. 2010.
YASBEK, Maria Carmelita; SILVA, Maria Ozanira da Silva. Das origens da profissão: a construção da Pós-Graduação em Serviço Social. IN: Serviço Social, Pós-Graduação e produção de conhecimento no Brasil. São Paulo: Cortez, 2005. p. 25-41.
       


[1] Destaca-se nesse período a contribuição de Marilda Iamamoto e José Paulo Netto, anos 80 e 90.
[2] Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais e o Programa Universidade para Todos.

SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE



 
Em todas as esferas de atuação do assistente social, desafios são postos, sua atuação é colocada em xeque, seu fazer é questionado ou ainda desqualificado. Na saúde esta realidade não é diferente, sendo um espaço sócio-ocupacional em que estas questões são bastante relevantes.
Alguns desafios são postos a atuação do assistente social na saúde tendo em vista ser um espaço tido como exclusivo da medicina, centralizado na figura do médico. Esta questão torna muitas vezes a nossa profissão desvalorizada.
Os parâmetros para atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde trás alguns desafios postos na atuação profissional, dentre eles destacamos: as condições de trabalho; formação profissional e conhecimento sobre a política de saúde; papel e função dentro da política de saúde; desconhecimento por parte de outros profissionais a cerca do assistente social.
Estes desafios muitas vezes contribui para que o fazer profissional seja incompreendido, desqualificado, criticado e desvalorizado. Ainda permite que funções que são atributos dos assistentes sociais sejam a ele direcionadas como: marcação de consulta; exames; solicitação de ambulâncias; vagas em hospitais; pesagem; alta e comunicação de óbito; declaração de comparecimento; montagem de processos e preenchimento de formulários; medicação; hortenses; próteses e meios.
Ao exercer funções que não são de sua responsabilidade, acabam deixando de realizar o seu papel, de viabilizar direitos ficando no campo técnico, sendo um auxiliar técnico dos profissionais da saúde. Isso contribui para que a profissão seja confundida com outras de cunho meramente administrativo, contribui ainda para que os profissionais que com ele trabalha não saiba qual é a verdadeira atribuição dos assistentes sociais na saúde.
A clareza de sua atuação permitirá que a sua atribuição e competência seja vista como importante na política de saúde. Dessa forma será possível estabelecer prioridades de ações e estratégias no exercício da profissão.
Portanto, o assiste social tem como desafio dentro da política de saúde uma auto-afirmação, lutando contra um sistema que exclui e aliena, explora e afasta aqueles que não servem para reafirmá-lo. Cabe ainda, aos profissionais uma constante reciclagem, uma preocupação com a formação, conhecendo a política e a realidade social que está inserido, tendo assim ferramentas adequadas ao fazer profissional.